Ministério da Saúde amplia recomendação e indica mamografia a partir dos 40 anos

Foto: Daniel Viana/Semsa

O Ministério da Saúde divulgou nesta terça-feira (23) novas recomendações para a realização da mamografia como parte da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Pela primeira vez, o exame passa a ser recomendado “sob demanda” para mulheres de 40 a 49 anos, mediante vontade da paciente e indicação médica.

Segundo José Barreto, diretor do Departamento de Atenção ao Câncer da Pasta, as regras anteriores que dificultavam o acesso a esse grupo etário serão revogadas. “Nosso compromisso é consolidar a maior rede de prevenção de câncer do mundo”, afirma.

Como era e como fica

Até agora, o protocolo oficial do Sistema Único de Saúde (SUS) orientava a mamografia apenas para mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos, mesmo sem sinais ou sintomas. Com as mudanças, o Ministério passa a recomendar:

40 a 49 anos: acesso garantido ao exame, sem rastreamento obrigatório a cada dois anos;

50 a 74 anos: rastreamento populacional bienal;

Acima dos 74 anos: decisão individualizada, de acordo com comorbidades e expectativa de vida.

Barreto destacou que a expansão da faixa de rastreamento — antes restrita até 69 anos e agora até os 74 — é um “chamamento” para que mais mulheres façam o exame regularmente.

Exame essencial

A mamografia é considerada o principal exame de rastreamento do câncer de mama. Ela permite identificar alterações como nódulos, cistos e espessamentos do tecido antes de sinais clínicos. Quando há suspeita, pode ser indicada biópsia para confirmar o diagnóstico.

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) já defendia a realização anual do exame a partir dos 40 anos. Em 2024, mais de 30% das mamografias realizadas no país foram em mulheres abaixo dos 50 anos, segundo o Ministério da Saúde.

Estrutura de atendimento

Secretário de Atenção Especializada à Saúde, Mozart Sales destaca que as medidas fazem parte de uma estratégia mais ampla de prevenção. Ele relembra que, em maio, o governo lançou o programa de carretas da saúde. Ainda segundo ele, em outubro, 27 unidades móveis estarão em 22 estados oferecendo consultas, mamografias e biópsias.

“Precisamos avançar muito. Cerca de 37% dos diagnósticos de câncer de mama no Brasil já acontecem em estágios 4 ou 5”, diz Sales.

A pasta também anunciou o lançamento de um manual de diagnóstico precoce e alta suspeição, voltado para apoiar profissionais da atenção primária.

Outra frente será a destinação de R$ 100 milhões em parceria com o CNPq para pesquisas em câncer de mama, colo de útero e colorretal.

Novos medicamentos no SUS

As mudanças no rastreamento vêm acompanhadas da incorporação de novos medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), dentro do primeiro Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) específico para câncer de mama. Entre eles estão:

Inibidores de CDK 4/6. Medicamentos que bloqueiam proteínas envolvidas na divisão celular. Eles ajudam a frear o crescimento do câncer de mama avançado, especialmente em tumores hormônio-dependentes.

Trastuzumab entansina. Terapia-alvo que combina o trastuzumabe (usado em tumores HER2 positivos) a uma quimioterapia. Funciona como uma “bala guiada”: leva a droga direto para as células tumorais.

Supressão ovariana medicamentosa e hormonioterapia parenteral. Bloqueia temporariamente a função dos ovários, reduzindo a produção de estrogênio — hormônio que pode alimentar o crescimento do câncer de mama. Pode ser aplicada em forma de injeção.

Fator estimulador de colônia para suporte em esquema de dose densa. Medicamento que estimula a produção de glóbulos brancos, diminuindo o risco de infecções durante quimioterapias mais intensas.

Ampliação da neoadjuvância para tumores em estágios I a III. A neoadjuvância é o tratamento feito antes da cirurgia, geralmente quimioterapia ou terapia-alvo, para reduzir o tamanho do tumor e aumentar as chances de preservação da mama. A novidade é que agora será usada em estágios iniciais também, e não apenas nos mais avançados.

O câncer de mama é o tipo mais incidente entre mulheres no Brasil e no mundo (excluindo tumores de pele não melanoma). O diagnóstico precoce aumenta as chances de cura e amplia as opções de tratamento.

Com as novas medidas, o Ministério da Saúde espera reduzir os diagnósticos tardios, alinhar a política nacional às recomendações de sociedades médicas e ampliar o acesso tanto a exames quanto a terapias modernas.

Fonte: G1