Anulação de questões do Enem prejudica o candidato? Veja o que muda na prova

Foto: Érico Andrade/g1

O gabarito oficial do 2º dia do Enem 2025 já está disponível e confirmou a anulação de três questões do exame. Mesmo com com itens a menos, a nota dos participantes não será prejudicada. O principal motivo é que, no Exame Nacional do Ensino Médio a pontuação não é um reflexo direto do total de acertos.

O modelo de correção do Enem (entenda mais abaixo) não estabelece pontuações específicas para as questões ou limites fixos de pontos para a prova como um todo. Logo, os valores máximos e mínimos de cada prova dependem da combinação de questões, refletindo dificuldade e coerência das respostas, e não apenas o número de acertos.

Diante disso, dois participantes podem acertar exatamente o mesmo número de questões e ter notas distintas, porque a pontuação depende de quais questões foram acertadas, e cada uma delas tem um "peso" diferente.

As três perguntas deixarão de valer para a nota final do Enem porque um estudante que presta consultoria para vestibulandos divulgou questões quase idênticas em uma live realizada cinco dias antes do exame. O g1 revelou o caso em primeira mão na manhã de terça-feira (18).

A anulação de três questões dentro de um conjunto de 180 não vai mudar as notas dos candidatos, não vai favorecer um grupo e não vai prejudicar um outro grupo. Porque as outras questões que compõem a prova vão manter a capacidade de avaliação e proficiência do aluno, nas diferentes dificuldades e habilidades que compõem a prova.

— Viktor Lemos, diretor geral do Curso Anglo.

As questões anuladas são:

Fotossíntese: (115 na cinza; 121 na amarela; 132 na verde; 123 na azul)

Grito: (118 na cinza; 115 na amarela; 135 na verde; 132 na azul)

Parcelamento de R$ 60 mil: (172 na cinza; 178 na amarela; 168 na verde; 174 na azul)

Por que as anuladas não alteram a nota?

No Enem, a nota não é um reflexo direto do total de acertos. O aluno que acertou 100 questões nos dois dias de provão não vai tirar 100 pontos.

Isso acontece porque o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é corrigido com base na TRI, a Teoria de Resposta ao Item.

Esse método de correção define que uma questão pode ter pesos diferentes a depender do desempenho geral do candidato.

A TRI apresenta as seguintes vantagens em relação ao método clássico de correção:

ao detectar os famosos "chutes", ela premia o aluno que, de fato, se preparou para a prova;

possibilita a comparação entre candidatos que tenham feito diferentes edições do exame;

torna mais improvável que dois concorrentes tirem exatamente a mesma nota, já que o resultado final é divulgado com casas decimais (816,4 pontos, por exemplo).

Graças a este modelo de correção, a banca do Enem também consegue "redistribuir" a nota de uma eventual questão anulada.

"Se uma questão for anulada, não tem problema, porque a TRI compensa a anulação da questão, sem prejuízo para nenhum dos estudantes. Todos vão ter a nota parametrizada da mesma forma", explica Michel Arthaud, professor de química da Plataforma Professor Ferretto.

Questões foram 'adiantadas' em live
Na terça-feira (17), o g1 revelou que alunos tiveram acesso a questões da prova antecipadamente. Em 11 de novembro, 5 dias antes da aplicação das provas de matemática e de ciências da natureza do Enem 2025, uma live no Youtube mostrou ao menos cinco questões quase iguais às que caíram na avaliação oficial.

Algumas, inclusive, têm exatamente os mesmos números cobrados dos candidatos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Edcley Teixeira, que vende serviços de consultoria a vestibulandos e que se identifica como um estudante de Medicina, afirma que "adivinhou" as questões dentro dos parâmetros legais, sem nenhum vazamento de material, apenas para "democratizar a educação". Apostilas do curso que ele oferece, obtidas pelo g1, também continham uma sexta questão do Enem 2025, sobre tijolos.

"A Polícia Federal foi acionada para apurar a conduta e autoria na divulgação das questões e garantir a responsabilização dos envolvidos por eventual quebra de confidencialidade ou ato de má-fé pela divulgação de questões sigilosas de forma indevida", diz o Inep, em nota.

Uma das principais técnicas usadas na "adivinhação", segundo o próprio "mentor", foi memorizar questões do Prêmio CAPES Talento Universitário — prova opcional aplicada em concurso para estudantes do 1º ano de graduações. Edcley teria descoberto que essas perguntas serviriam como "pré-teste" para integrarem futuras edições do Enem.

O Inep jamais confirmou qualquer associação entre esses dois exames.

"Desenvolvi método de algoritmo que dá a resposta de qualquer questão. Os professores precisam estudar a estrutura da prova. Com poucos recursos, consegui revolucionar o Enem sem que ninguém soubesse até hoje. Agora, sabem. Entendi a lógica do Enem e consegui prever as questões", diz o "mentor".

Diante da repercussão da live, alunos que participaram da prova neste ano levantaram, nas redes sociais, a suspeita de um possível vazamento da prova — e manifestaram temor de que a avaliação fosse cancelada.

Fonte: G1