Apreensão de 103 kg de ouro em Hilux revela esquema milionário em Roraima

Foto: Reprodução/Instagram

Uma abordagem de rotina a uma Hilux resultou na maior apreensão de ouro do país feita pela Polícia Rodoviária Federal: 103 kg de ouro que estava com o empresário rondoniense Bruno Mendes de Jesus, de 30 anos. Ele teve a prisão preventiva decretada na audiência de custódia.

O ouro apreendido foi avaliado em mais de R$ 61 milhões. Bruno foi parado pela PRF na altura da ponte dos Macuxis, em Boa Vista, por volta de meio-dia do dia 4 de agosto de 2025. Essa foi a maior apreensão do minério feita pela PRF no país.

Durante a abordagem, Bruno apresentou sinais de nervosismo. Os agentes suspeitaram de inconsistências na documentação que ele apresentou e decidiram fazer uma busca mais detalhada. Foi então que localizaram as barras de ouro escondidas — a maior parte estava no painel do carro.

Bruno é um empresário de 30 anos, natural de Rondônia. Foi preso dirigindo a caminhonete com 103 kg de ouro. Ele possui uma empresa varejista de artigos de vestuário e acessórios.

A empresa leva o nome dele e fica localizada no bairro Lagoa, em Porto Velho, conforme cadastro na Receita Federal. Discreto nas rede sociais, é casado com uma blogueira de Rondônia. Juntos, os dois têm um filho de nove meses. Tanto a mulher quanto o bebê estavam na Hilux abordada pela PRF.

A defesa de Bruno disse que ele é um "trabalhador" do "setor mineral", além de ser réu primário, com bons antecedentes, pai e "único provedor familiar".

Quando foi abordado pela PRF, disse ser fiscal de obras e afirmou que havia saído de Manaus para verificar uma construção, mas não soube informar o nome ou o endereço da obra que seria fiscalizada.

Ao chegar à PF, não disse mais nada. Ele foi acompanhado por dois advogados desde o momento da abordagem até o procedimento na polícia.

De onde saiu o ouro e para onde iria?

Ainda não se sabe a origem do ouro e nem para onde Bruno pretendia levá-lo. Quando foi parado, ele estava na ponte dos Macuxis, na BR-401, no sentido Manaus a Boa Vista. Aos agentes, ele disse que estava vindo de Manaus.

Na audiência de custódia, o juiz autorizou a quebra de sigilo telefônico de Bruno. Com isso, a PF terá acesso aos dados do celular e deve aprofundar as investigações. Além disso, o ouro deve passar por perícia e análises que determinam a origem. O caso tramita na 4ª Vara Federal Criminal em Roraima.

Quais os crimes que Bruno deve responder?

Bruno foi autuado em flagrante na Polícia Federal pelos crimes extração ilegal de minério, previsto na Lei de Crimes Ambientais, e usurpação de bens da União.

A Justiça decretou a prisão preventiva dele nesta terça-feira (5). A decisão doi do juiz federal Victor Oliveira de Queiroz, da 4ª Vara Federal Criminal.

Na decisão, o juiz afirmou ser necessário manter Bruno preso para garantir a ordem pública, diante da gravidade do caso.

"Trata-se da maior apreensão de ouro em mais de dois anos no Estado de Roraima – 103kg, com valor estimado em 60 milhões de reais. A expressividade da lesão ao patrimônio federal demonstra a gravidade concreta da conduta praticada pelo custodiado, a impor ao Poder Judiciário o dever de resguardar a ordem pública, através da decretação da prisão preventiva", cita trecho da decisão.

Além disso, Victor Queiroz destacou que o transporte do minério levanta suspeitas de que se trata de ação relacionada ao "crime organizado". O juiz também frisou que Bruno não colaborou com as investigações "não revelando a origem ou destino do minério que carregava consigo".

Onde o ouro estava escondido no veículo?

Foram apreendidos 103 kg de ouro em barras que estavam escondias em um fundo falso no painel da Hilux. O minério foi avaliado em R$ 61 milhões pela cotação atual do Banco Central.

No total, os agentes encontraram 145 barras grandes escondidas no painel e outras 60 barras pequenas. Também foram encontradas pedras do minério no porta-objetos.

A caminhonete, que está no nome de uma empresa de construção no Amazonas, e o ouro foram apreendidos foram levados à sede da Polícia Federal, em Boa Vista.

Agentes suspeitaram de inconsistências na documentação apresentada por Bruno, decidiram fazer uma busca mais detalhada, e notaram que partes do carro haviam sido mexidas. Foi então que localizaram as barras de ouro.

O que diz a defesa de Bruno?

A defesa de Bruno afirma que ele é um "cidadão primário, de bons antecedentes", pai de um bebê de 9 meses e "único responsável pelo sustento da família".

Argumenta que ele atua no "setor mineral" como meio de subsistência, destacando que o garimpo é uma questão social complexa, e que a falta de regularização transforma a atividade em infração, não a atividade em si.

Na audiência, a defesa de Bruno pediu que fosse concedida liberdade provisória com aplicação de medidas cautelares, mas o juiz não acatou. O argumento da defesa a de era que o caso não atendia aos requisitos para prisão preventiva.

A caminhonete era de Bruno?

Não. A caminhonete Hilux ano 2024, utilizada para o transporte do ouro, não estava registrada em nome de Bruno Mendes de Jesus. O veículo pertence à empresa AJL Transportes, de Manaus, Amazonas, que também atua na construção civil e obras de infraestrutura urbana.

A AJL Construções, Transportes e Logística Ltda está ativa desde agosto de 2000. Avaliada em R$ 500 mil, a empresa tem como sócio-administrador Marcos Roberto Souza da Silva. O g1 procurou os citados, mas não recebeu resposta até a última atualização.

Em Roraima, a segunda maior apreensão havia sido de 21 kg de ouro ilegal em junho de 2024.

Fonte: G1