Biólogos pedem investigação diante do aumento de mortes de pinguins no litoral brasileiro

Foto: IPec/Divulgação

O número de pinguins-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) encontrados mortos em Cananéia, Iguape e Ilha Comprida (SP) passou para 739, segundo o Instituto de Pesquisas Cananéia (Ipec). O número corresponde aos animais encontrados na última semana, por conta do “encalhe em massa” registrado de pinguins em avançado estado de decomposição.

O registro, conforme o Ipec, corresponde aos pinguins encontrados de sexta-feira (15) até esta quinta-feira (21). Inicialmente, a entidade informou que mais de 350 pinguins encalharam no trecho de Ilha Comprida (SP), em balanço divulgado na terça-feira (19). Porém, o número aumentou com o passar dos dias.

Segundo o Ipec, ainda seguem ocorrendo encalhes de pinguins. Os animais são recolhidos durante atuação do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS). Um novo balanço deve ser realizado nesta sexta-feira (22), para contabilizar animais recém-recolhidos.

Possíveis causas 

Especialistas pontuaram que eles parecem ser jovens e também podem ter sofrido influência de fatores como:

falta de alimento

interferência humana

interação com redes de pesca

período migratório

O biólogo Alex Ribeiro destacou que os encalhes podem estar relacionados com a juventude dos animais - que aparentam ser jovens devido à falta de coloração definida. “Às vezes, na primeira viagem, não estão muito bem orientados e acabam se perdendo”, disse. Ele pontuou que os animais podem ter se aproximado demais das praias, ficado à deriva no mar e sem alimentos.

Segundo ele, os pinguins também podem ter se aproximado da costa devido à influência humana. “Se os animais estão sujos de óleo ou se ingeriram lixo de alguma forma”, destacou Alex. O especialista destacou, no entanto, que a causa real da morte depende da análise necroscópica do animal.

O biólogo William Rodriguez Schepis destacou a possibilidade de interação com redes de pesca. “É um animal que não tem mercado, não tem valor econômico, então ele [pescador] já descarta no mar”, disse.

O biólogo pontuou que, mesmo com o alto número de exemplares, o caso pode se enquadrar no contexto da seleção natural. Na Patagônia argentina, região nativa da espécie, ele disse que podem ser encontrados mais de 1 milhão de pinguins. “Existe um descarte natural. Então a seleção natural acaba fazendo esse papel".

A aparição em um curto espaço de tempo também está relacionada ao período migratório do animal, quando deixam suas colônias na Patagônia argentina e nadam rumo ao norte, passando pelo Uruguai e chegando ao Sul e Sudeste do Brasil.

De acordo com Alex, a migração da espécie ocorre por meio da Corrente Tropical do Atlântico Sul, que eles utilizam em busca de alimentos. O período de migração da espécie ocorre entre os meses de junho e setembro.

“Como a viagem é muito longa, muitos chegam fracos, debilitados, não conseguem se alimentar o suficiente para fazer a viagem toda e acabam morrendo. Muitas vezes morrem em alto mar ou chegam bem fracos, bem debilitados na praia. Morrem na praia ou acabam sendo resgatados por grupos que fazem monitoramento de praia”, conta Alex.

O biólogo Rafael Santos disse, ainda, que as águas do Sudeste - principalmente ao norte - não oferecem a alimentação necessária para todos os pinguins, que costumam migrar em grupos de 10 a 15 mil animais.

"Tanto que a maioria que encalha tem características muito parecidas: São animais que estão magros e a grande maioria é filhote", explica.

Porém, William destacou que não é comum a aparição de uma grande quantidade de pinguins no curto espaço de tempo. "É um número expressivo. Uma quantidade bem grande, num período bem curto aí de tempo. Precisa estar fazendo uma análise mais aprofundada com as carcaças dos pinguins", disse.

Fonte: Ric.com.br