Gêmeos siameses são chamados os casos em que os bebês nascem unidos fisicamente e compartilham um ou mais órgãos. Goiás é considerado uma referência nos casos de separação, com a sobrevida chegando a 50% nos casos mais complexos. Veja como estão as irmãs Raniela e Rafaela Rocha Cardoso, que nasceram unidas pelo abdome e foram separadas em 2002. Hoje, uma delas se tornou mãe.
As jovens nasceram em Goianésia, no centro do estado, unidas pelo abdome. Elas compartilhavam o fígado e foram separadas sete dias após o nascimento.
Hoje, com 23 anos, elas vivem saudáveis, sem problemas de saúde. A gêmea Rafaela, inclusive, se tornou mãe. Elas conversaram com o g1 e contaram que não precisam fazer nenhum tipo de acompanhamento médico.
Descoberta aconteceu após o parto
Segundo Raniela, na gravidez, a mãe delas sabia que teria gêmeas, mas não que as irmãs estavam unidas, porque a ultrassom não mostrava. "Ela só descobriu no parto. Foi um susto tanto para ela quanto para o médico que estava no momento", contou. Raniela disse que, logo depois do parto, a família foi encaminhada para Goiânia.
A gêmea explicou que elas demoraram a descobrir porque tinham uma cicatriz na barriga. Só quando completaram 7 anos, é que a mãe contou a história, mostrando uma gravação em vídeo. A família esperou para quando as meninas tivessem idade para entender.
"Quando a gente tinha mais ou menos 7 anos, voltamos da igreja e minha mãe nos chamou para sentar no sofá. Falou que tinha um presente para nós, que era uma gravação. A primeira gravação que fizeram da gente para contar nossa história", disse.
Raniela disse que foi muito emocionante para ela e a irmã saberem da história.
Rafaela tem um filho que hoje está com nove meses. Ela contou que chegou a ter medo de ter gêmeos quando estava grávida, mas que depois o medo passou. Segundo ela, o filho Davi Emanuel nasceu saudável e é bastante calmo.
O g1 conversou com o médico de Goiás que é referência no assunto e realizou a separação das meninas, Zacharias Calil. Para ajudar a entender a complexidade quando se fala em gêmeos siameses, o médico explica que a incidência de casos no mundo é de 1 a cada 150 mil nascidos vivos. "Desde 1999, já atendemos 44 gêmeos conjugados, mas apenas 24 conseguiram chegar na idade para serem separados", disse.
Segundo Zacharias, não existe uma causa definida nem um fator que aumente as chances desse tipo de gestação. A ciência explica que, no 13º dia da ovulação, o óvulo não se divide completamente e os bebês passam a compartilhar determinados órgãos, podendo ser o mesmo coração ou fígado, às vezes até os intestinos.
"Se são unidos pela bacia, são chamados isquiópagos e podem ter de três a quatro pernas, e dividem vários órgãos. Esses são os mais complexos da minha especialidade e o 2º em grau de dificuldade; o primeiro são os que nascem unidos pela cabeça", disse o médico.
Pré-natal e pós-parto
Zacharias explica que o pré-natal e o pós-parto de siameses incluem exames de imagem como ultrassonografia, ecocardiograma fetal e ressonância magnética após a 22ª semana de gestação. Os exames buscam analistar com maior precisão os órgãos compartilhados pelos gêmeos e o prognóstico.
Características da gestação e parto de siameses:
O parto tem que ser programado com antecedência;
O parto é feito por cirurgia cesariana;
Após o nascimento, são acompanhados por neonatologistas experientes e em UTI neonatal preparada;
Após o nascimento, são feitos exames de imagem nos bebês, impressão 3D e realidade aumentada para planejar essas operações complexas que serão feita;
É feita a colocação de expansores subdérmicos de silicone para criar nos bebês.
O médico explica que gestações de siameses geralmente não chegam à 35ª semana. A mãe pode evoluir para complicações como hemorragia uterina e já houve paciente que precisou retirar o útero.
Risco de morte
Zacharias esclarece que o risco de morte para bebês siameses é alto logo após o nascimento, por causa de más-formações, principalmente nos casos que são unidos pelo tórax e dividem o coração. Em números, cerca de 75% morrem logo após o nascimento e 15% não sobrevivem nas primeiras semanas, de acordo com o médico.
"A literatura médica mundial fala em 20% (de sobrevivência). Aqui em Goiás, a sobrevida chega a 50% nos casos mais complexos e 100% nos casos que apresentam menos compartilhamento de órgãos", disse Calil.
Goiás como referência
O médico contabiliza que desde 1999 já foram atendidos 44 gêmeos siameses em Goiás, mas apenas 24 conseguiram chegar na idade para serem separados. Segundo ele, o Brasil é considerado o terceiro país no mundo com mais separações de siameses.
Calil disse ainda que a idade ideal para a cirurgia é por volta de seis meses a 1 ano de idade. "Depende muito da união e se tem pele suficiente", afirma.
Fonte - G1
0 Comentários